A RevistaRia
A revista virtual da Ria Livraria

Editorial
Direção: Marcos Benuthe
Coordenação Editorial: Morgana Kretzmann e Ian Uviedo
Produção e diagramação: Jarbas S. Galhardo
Vamos lá. Por que falar sobre a Geração Beat em plena pandemia? Será que os ecos do movimento beat ainda ressoam no mundo atual? Qual a importância desse movimento ontem e qual a importância hoje?
As respostas para estas perguntas, você, querida leitora, querido leitor, irá encontrar (ou não) nos textos e entrevistas dos nossos convidados desta edição #2 da RevistaRia.
Pensamos que é preciso encarar este movimento em toda a sua riqueza, diversidade e complexidade existencial, e por isso queremos destacar, aqui na abertura, duas poetas singulares, deixando nossa homenagem a mulheres da Geração Beat, que viveram numa época opressora, predominada pela cultura patriarcal.
Anne Waldman (1945 - ), poeta performática, que fez parte da segunda geração da Escola de Nova York e que, numa época em que homens tinham todo o espaço para serem livres, transgressores, rebeldes, e as mulheres não, foi ousada e destemida, focada em sua arte. Alguém que trabalhou muito, produziu muito; escreveu quarenta e dois livros e ao lado de Ginsberg fundou, em 1974, a Escola Jack Kerouac de Poéticas Descorporizadas, onde continua dando aulas até hoje.
Elise Cowen (1933 - 1962), umas das mais importantes figuras do movimento Beat, que, por escrever sobre sexo, loucura, drogas, morte; por levar uma vida fora do padrão comportamental da época, acabou sendo internada em manicômios mais de uma vez. E que, poucos dias depois da sua última internação, em 1962, já de volta à casa dos pais, cometeu suicídio, jogando-se pela janela do sétimo andar.
Seus cadernos com textos inéditos foram queimados pelos vizinhos, sobrando apenas um deles, com oitenta e três poemas.
Os poemas de Anne Waldman e de Elise Cowen foram generosamente cedidos para a RevistaRia por Vanderley Mendonça, editor da cultuada Demônio Negro, e extraídos do livro "As Meninas que Vestiam Preto". Vamos a eles.
*

BERTHE MORISOT
Até o final dos seus dias, ela disse
que o desejo por fama após a morte
parecia-lhe uma ambição desmedida.
"A minha", acrescentou, "limita-se ao
desejo de pintar as coisas enquanto
acontecem, a mais ínfima das coisas!"
Um crítico escreveu sobre a mostra no
Salon des Impressionnistes destacando
Morisot: "Há cinco ou seis lunáticos,
um deles, uma mulher."
(Anne Waldman)
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Sem amor
Sem compaixão
Sem inteligência
Sem beleza
Sem humildade
Vinte e sete anos são o bastante
Mãe - é tarde demais - anos de loucura - Desculpe
Pai - O que aconteceu?
Allen - Desculpe
Peter - Juventude Santa Rosa
Betty - Tanta valentia feminina
Keith - Obrigado
Joyce - Menina linda
Howard - Cuide-se, meu bem
Leo - Abra as janelas e Shalom
Carol - Deixa acontecer
Deixe-me ir, por favor -
Por favor, deixe-me entrar
(Elise Cowen)
* alguns biógrafos dizem que este foi o último poema escrito por Cowen antes de se matar.
A RevistaRia, nesta segunda edição, PÓS-BEATS/ PÓS-PANDEMIA, quer mais uma vez marcar seu compromisso com a pluralidade, e por isso homenageia todos aqueles que fizeram parte da chamada geração beatnik, e que existiram aquém e além dela, mas que pela força repressora da mídia, dos círculos literários e dos ignorantes, gozam de pouco reconhecimento. São eles: Amiri Baraka, Anne Waldman, Diane di Prima, Elise Cowen, Marie Ponsot, Denise Levertov, Ted Joanes, Joyce Johnson, Carolyn Cassady, Brenda Frazer, Hettie Jones, Joan Vollmer Adams, e todos e todas que foram invisibilizados pela sedimentação da história. Gregory Corso disse que "algum dia alguém escreverá sobre essas pessoas."
Site para editora Demônio Negro:
https://www.demonionegro.com.br/produto/meninas-que-vestiam-preto/
Foto de Anne Waldman: Nina Subin, extraída do site arts.brown.edu
Foto de Elise Cowen: extraída de seu passaporte.

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