Navalha-mulher
Morgana Kretzmann
É da falange
Cacurucaia Gira rua No cemitério Cidade junta cidade
Socar com a boca do estômago
a rua
"Não ando só"
Primeiro foi um tapa na bebida derramada
Na esquina
Depois foi grito e dedos marcados no vermelho Um olhar errado, vermelho no rosto Risada alta, vermelho na perna Palavra mal parida, vermelho na costela Na bexiga Dente cuspido
Dona Maria Marias Disseram
não
Voz de Maria cortada pela navalha Sangue que escorre pelo pescoço Vermelho na mesa de madeira da calçada da cidade
os fios de contas em chamas, ruminando
voz
engolida
voz
grito
Dando a sua gargalhada
Renasceu Mais forte que vento que rasga encruzilhada
Agô Iansã Vela branca na entrada
Agô minha mãe
Salve as almas
Salve
Pombagira da rua
Dona da rua
É dona do destino
sofrimento não é morte
do homem que não entende o poder
navalha-mulher.

Morgana Kretzmann, formada em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Santa Catarina, é também escritora, roteirista, fez o curso de extensão em Roteiro Cinematográfico na PUC-RIO, atriz e produtora cultural com 18 anos de carreira. Seu livro de estreia, "Ao Pó", foi lançado em março de 2020 e vem recebendo ótimas críticas do meio especializado e boa aceitação do público leitor. Concebeu a série infantojuvenil, "Os Super Solos", durante a faculdade e escreveu o primeiro livro chamado, "Neomenina, Esperança e Os Super Solos", para seu projeto de pesquisa de conclusão de curso, aplicando ele na forma de contação de histórias na Biblioteca Mário de Andrade e na Virada Sustentável de São Paulo. Idealizou e produziu projetos culturais como, "Universo Bortolotto - Nossa Vida Não Vale um Chevrolet" e "Garopa Literária I e II", ganhando prêmios de melhor produção. Trabalhou em diversos espetáculos teatrais, filmes e séries para televisão, como o filme "A Pedra" (Prana Filmes) que abriu o Festival de Gramado de 2019 junto com Bacurau. Também dirigiu e adaptou para o teatro o livro do jornalista e comentarista esportivo Xico Sá, "Big Jato", no Rio de Janeiro, ganhando prêmios de fomento a cultura.
foto: Paulo Scott
O videopoema foi editado por Ian Uviedo.

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